Por: Ricardo Bovo*
5) Área de cobertura
Os sistemas APCO são mais indicados quando as áreas de cobertura são extensas, não por causa da banda de frequência necessariamente, mas pela potência de transmissão das repetidoras. Em sistemas APCO, essas potências podem chegar a mais de 125 watts, depois do combinador.
Além disso, as repetidoras digitais possuem uma sensibilidade de recepção muito superior, se comparadas às repetidoras analógicas de baixo tráfego que são normalmente montadas com dois rádios móveis interligados.
Certifique-se de que os dados apontados no catálogo do equipamento adquirido mencionam a potência real, isto é, calculada depois das perdas ocasionadas pelo combinador e as perdas por inserção de conectores.
Essas perdas, combinadas, podem atenuar o sinal em até 6 dB e reduzir em quatro vezes o valor nominal. Isso significa, por exemplo, que 75 watts antes do combinador podem resultar em menos de 17 watts efetivamente irradiados.
Outro ponto importante diz respeito aos rádios. No APCO, os rádios possuem mais potência que em TETRA, mesmo se comparados na banda comum de 800 MHz.
Um terminal portátil APCO tem cerca de 6 watts, e um rádio móvel, 45 watts, enquanto os TETRA possuem 1 watt e 3 watts, respectivamente. Ou seja, o número de bases necessárias para cobrir uma mesma cidade com APCO será dezenas de vezes menor que o número de bases TETRA, mesmo que essa comparação seja feita na mesma faixa de frequência (UHF ou 800 MHz).
Até porque as cidades brasileiras possuem uma geografia extensa e montanhosa, que não favorece a propagação das ondas. Além disso, mais bases significam não só mais equipamentos, como também mais licenças (alvarás), mais obras civis, aterramento, contêineres, links e mais locais para gerenciar e prover segurança contra vandalismos. Por isso, é importante considerar o custo total do investimento (TCO).
Em situações como a de distribuidoras de energia elétrica, que possuem uma extensa área e atendimento para cobrir com rádio, o APCO é ideal, pois apresenta o melhor desempenho.
Já para pequenas áreas de cobertura, não importa o número de usuários, um sistema TETRA oferece um desempenho superior, como é o caso de aeroportos, indústrias, resorts etc. Entretanto, é necessário observar a faixa de frequência que está disponível, pois, na maioria das vezes, o espectro acaba por direcionar a escolha da solução, apesar dos benefícios técnicos citados.
6) Fabricantes
Talvez o ponto mais importante para ser avaliado seja esse. Avalie cuidadosamente quais fabricantes existem, se estão fisicamente presentes e ainda qual a experiência que possuem na implantação de um sistema similar em seu país ou região.
Certifique-se de que tenham presença local por meio de pessoal próprio, e não de representantes. Isso é fundamental quando você precisar de suporte técnico ou de assistência técnica local.
Já imaginou ter de fazer uma ligação internacional para abrir um chamado? Devido à diferença de fusos horários em alguns países, talvez essa ligação precise ser feita fora dos horários comerciais. Quanto tempo o suporte levaria para chegar e atender à solicitação? Procure fazer as seguintes perguntas:
• O fabricante possui uma rede de assistência técnica em todo o Brasil ou essa rede se resume a um revendedor?
• A empresa possui instalação física no Brasil ou opera por meio de representantes?
• Possui quadro de funcionários próprios com engenheiros e técnicos capacitados? Ou usa mão de obra de seus representantes?
• A empresa possui algum ativo, imóvel etc.?
O montante de investimentos que o fornecedor fez no Brasil traduz fielmente seu grau de comprometimento com o sistema de missão crítica em operação. Isso vai além de experiência, chama-se comprometimento.
No caso de uma crise, uma empresa que possui vínculos com o País não consegue fugir de suas responsabilidades. É interessante verificar se o fabricante possui ativos no País, em valor superior ao sistema que você eventualmente comprará dele.
Mais um motivo para selecionar uma empresa com presença local é o fato de que o fornecedor contratado pode ajudá-lo na escolha da melhor frequência e em todo o processo burocrático de obtenção da autorização.
Por isso, quando possível, escolha produtos nacionais. Você certamente terá melhor assistência técnica, o que evitará ter de mandar equipamentos para reparo fora do País. Além disso, vai incentivar a indústria local e ajudar o País a crescer e atrair mais investimentos.
Ocasionalmente você precisará de rádios intrinsecamente seguros (IS). Esse equipamento é obrigatório em empresas químicas e petroquímicas. Em alguns países, como o Brasil, esses produtos possuem uma regulamentação específica e requerem uma certificação especial e rigorosa.
Em certos casos, a certificação Factory Mutual (FM), dos Estados Unidos, não é aceita, e uma certificação local é necessária. A certificação brasileira é feita pelo Inmetro por meio de uma Organização Certificadora de Produto (OCP).
Mas não é só isso. No caso de manutenção desses equipamentos, o cuidado é ainda maior. Rádios IS só devem ser reparados por laboratórios que foram auditados e aprovados pelo órgão credenciado junto ao Inmetro (conforme norma ABNT NBR IEC 60079-19:2008) e não somente pelo fabricante do equipamento.
Uma assistência técnica comum não pode e não deve tentar reparar estes equipamentos. Se isso acontecer, o produto fica descaracterizado como IS e perde a certificação. No caso de ocorrer um acidente e a empresa seguradora identificar o uso de rádios que não sejam certificados, isso pode ocasionar a perda da cobertura.
Antes de enviar um rádio IS para reparo, certifique-se de que a empresa escolhida está habilitada e autorizada pelo fabricante e pela entidade competente. Observe que o órgão certificador para segurança intrínseca é diferente do órgão que homologa os rádios para funcionamento no Brasil.
7) Propriedade do sistema
Ter o domínio e o controle do sistema é fundamental, não importa qual tecnologia você utilize. Nunca compartilhe seu sistema, nem deixe o controle nas mãos de uma operadora comercial, como uma operadora de celular ou operadora comercial de trunking.
Soluções como GPRS, PoC (PTT pelo celular, etc.) não são redes projetadas para atender aos requisitos de uma operação de missão crítica. As exigências de usuários comerciais são menores e a disponibilidade da rede é a mesma. Em caso de falha, todos ficam fora do ar.
Uma rede própria é desenhada para atender aos requisitos de cobertura, tráfego, disponibilidade (redundância) e rápido restabelecimento. Foi projetada para seu uso exclusivo e está sob sua gerência e controle, além de poder ser interligada aos sistemas existentes.
Você pode até terceirizar a operação de sua rede, contratar uma empresa para operá-la. Porém, tenha o controle e o domínio (posse) do sistema. Tenha sempre as licenças em seu nome, seja o proprietário do sistema. Se você precisar encerrar o contrato, não ficará sem comunicação, pois o sistema continua sendo seu e sob seu controle. Nesse caso, talvez alugar os rádios possa ser uma boa alternativa.
São inúmeros os exemplos de situações em que os sistemas públicos de operadoras falharam e deixaram a população sem serviço. Quando um desastre ou uma catástrofe ocorre, as redes públicas tendem a ficar saturadas e falhar. No entanto, sua rede tem de permanecer operando normalmente. Nos incidentes abaixo, as redes públicas foram as primeiras a falhar:
• Apagão na Região Sudeste – 4 de março de 1998: apenas o sistema da Polícia Militar de São Paulo funcionou ininterruptamente;
• Ataques do crime organizado – 16 de maio de 2006: redes de celular entraram em colapso por horas;
• Acidente em Congonhas – 17 de julho de 2007: a autoridade de trânsito municipal usava PoC (PTT over Cellular) e ficou sem serviço na região do acidente por horas.
Por essas razões, uma empresa de serviços de missão crítica deve pensar e avaliar muito bem antes de decidir por um sistema de radiocomunicação.
*Engenheiro eletricista e especialista em radiocomunicação. Tem mais de 15 anos e experiência no setor e atualmente é responsável pelo atendimento das empresas do setor de energia como Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Motorola Solutions – Indústria de Produtos de Banda Larga Móvel Ltda.
Fonte: http://smartgridnews.com.br